A Insustentável Leveza do Ser
Li o livro há cerca de quatro anos e fiquei rendida ao estilo absolutamente arrebatador de Milan Kundera. Um livro que descreve de forma perturbante, inquietante e, chegando até a ser, revoltante, uma Checoslováquia oprimida e sufocada pela ditadura comunista. Um povo que se alimenta da sua própria desgraça, amargando o fado que a política traz aos que anseiam apenas por uma vida simples e feliz.
Hoje vi a adaptação deste romance ao cinema. Uma realização de Philip Kaufman, que coloca em cena três actores: Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin; numa perfeita harmonia entre paixão, sedução e o destino cruel da realidade fria que os envolve, numa batalha entre força e fraqueza. "Todos temos tendência para culpar a força e ver na fraqueza uma vítima inocente.", mas essa fraqueza é usada, muita vezes, e com malícia, para manipularmos os outros, de acordo com as nossas mais obscuras intenções.
O protagonista principal, Tomas (Daniel Day-Lewis) é um neuro-cirurgião de sucesso, que busca a leveza do ser através de uma vida plena de relações suaves, sensuais e fugazes. A vida apresenta-se-lhe numa aura de pura sedução, uma envolvência doce e descomprometida. Tereza (Juliette Binoche) surge na sua vida como um peso, que o puxa para a realidade terrena, composta por obrigações, compromissos, partilha, entrega e ciúmes. Ela puxa-o para o oposto do que ele é. No meio, encontra-se o equilíbrio que todos almejamos para as nossas vidas.
Tomas rende-se à sua própria vida, ao seu destino, à sua sorte e, contemplativamente, aceita o que a última paragem lhe reserva. Como ele diz, "As decisões humanas são assustadoramente fáceis de tomar.", são uma consequência das nossas atitudes, gestos e palavras. Mas um homem só se encontra verdadeiramente quando deixa de suportar a pressão insustentável da leveza do seu ser. Quando o peso do seu próprio corpo o faz ganhar a dimensão da vida e dizer: "Missão é uma palavra parva. Eu não tenho missão nenhuma. Ninguém tem missão nenhuma. E é um alívio enorme uma pessoa perceber que é livre, que não tem missão nenhuma."
(pág. 348, 350 e 352, A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera, Dom Quixote, 2005)
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