Solércia


Foi com Gil Vicente que aprendi a gostar de teatro, ou, melhor dizendo, que a minha alma despertou para a eloquência das formas e dos sons nesta mistura perfeita, que nos envolve num véu de sumptuosidade.

Do monólogo, ao diálogo, da quietude à acção, tudo faz parte do cenário. Uma vezes cinzento, ou quase imperceptível, outras berrante, de cores garridas, mas sempre suportado por uma aura que envolve todos os que o observam em puro deleite e arrebatadora magia.

A Quinta da Regaleira é por si só um espaço de inigualável beleza e mistério, dois ingridientes chave para uma encenação brilhante como a que o Teatro Tapafuros faz de Solércia, a partir de textos de Gil Vicente.

A noite recebe-nos na sua graça e permite-nos detectar formas misteriosas que, de outra forma, poderiam passar despercebidas. O contacto com a natureza desperta-nos os sentidos de forma alarmante, o que provoca uma ansiedade positiva na observação do desenrolar da acção. As vozes misturam-se com os sons nocturnos e os edifícios contrastam na escuridão, revelando ainda mais o seu magnífico esplendor.

Esta é a terceira peça de teatro a que assisto na Quinta da Regaleira, pela autoria do Teatro Tapafuros, é sempre uma experiência inebriante, que recomendo a todos os que amam o teatro e que não conheçam este espaço. Para os que conhecem apenas durante o dia, não percam esta oportunidade de desvendar os mistérios da noite.

Até dia 10 de Outubro, na Quinta da Regaleira. Levem calçado confortável e um agasalho.

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