Lolita, Vladimir Nabokov
Vladimir Nabokov, romancista e poeta russo, absolutamente genial na originalidade, na riqueza imaginativa, na mestria estilística mas, sobretudo, na capacidade de nos remeter para um mundo próximo do grotesco, do insólito e da sátira.
A sua obra prima, Lolita, é uma mostra de toda a sua genialidade, revelando um mundo obscuro, assente na realidade crua, fria e simbólica da tortura humana. Através da relação amorosa de um intelectual de meia idade com uma adolescente de 12 anos, confronta-se toda uma série de ideias sobre a mente e o espírito, que aprisionam a sua própria vontade em detrimento da liberdade do outro. O protagonista da história, sendo narrador presente, provoca a sensibilidade do leitor de forma permanente e desafiadora. A dureza da narrativa, o excesso descritivo, os pormenores demasiado ostensivos, inquietam qualquer ser humano, por mais expansivo, entendido, ou, simplesmente, compreensivo que seja. A loucura está subjacente às palavras, tanto como às acções. O ritmo é deveras envolvente, criando um misto de ansiedade e temor. Há um enredo fugaz, mas inteligente, que vai tecendo a sua teia em torno de cenários, personagens e a sua interacção. A história centra-se, essencialmente, numa retrospectiva de imagens, numa confissão póstuma, que revela uma vida singular e verdadeira.
O livro já me fora aconselhado por duas pessoas distintas e saltou-me para as mãos de forma inequívoca e espontânea, revelando-me que fora ele que me escolhera a mim e não o contrário. Enchi-me de coragem. Sentia-a a capa queimar-me as mãos, como se as páginas que abrigava fossem labaredas de um pecado capital que as levara ao inferno. Senti repulsa. O estômago revoltou-se-me. Senti o rubor nas minhas faces. Tive náuseas, tremores, contusões. Por fim, após lida a última página, fechei o livro e meditei sobre a história maravilhosa, que tão intensamente me acompanhou ao longo do último mês.
Dedico este post ao L., que deu o golpe de misericórdia final na minha inércia para ler este livro. Agradeço-lhe, principalmente, a lista de livros e autores com que me vai desafiando.
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