À Espera no Centeio, J. D. Salinger


À Espera no Centeio, de J. D. Salinger, é a história, contada na primeira pessoa, de um adolescente que se sente alienado do mundo, do que o rodeia, e até de si próprio. Uma narrativa que descreve três dias na vida do protagonista, mas que nos dá um conhecimento profundo e bastante completo da maneira como tem vivido e o desespero que sente por não se sentir bem em lugar nenhum.
Holden Caulfield tem 16 anos, vem de uma família abastada que vive em Nova Iorque, e acaba de ser expulso, mais uma vez, de um prestigiante colégio interno. É neste contexto que descreve de forma alucinante o que gostava de fazer na vida: "ponho-me a imaginar uma data de miuditos a brincar num jogo qualquer num grande campo de centeio e tal. Milhares de miuditos, e ninguém por perto, ninguém crescido, quero eu dizer, a não ser eu. E eu fico ali na borda de um abismo lixado. E o que eu tenho de fazer é ficar à espera no centeio e apanhar todos os que desatarem a correr para o abismo... Quer dizer, se vão a correr e não vêem para onde vão, eu tenho de saltar de um lado qualquer e de os apanhar. Era só isso que fazia o dia inteiro. Só estar ali à espera, a apanhar os miúdos no centeio e tal. Eu sei que é uma coisa maluca, mas é a única coisa que eu gostava de ser. Bem sei que é uma coisa maluca." Este é o abismo em ele próprio se encontra.
Um dos momentos de lucidez de Holden é descrito na seguinte frase: "muitas vezes não sabemos o que nos interessa mais até começarmos a falar de uma coisa que não é o que nos interessa mais." Mas a vida deste adolescente está completamente desprovida de sentido, o que é entendido por um professor de Inglês, seu amigo, que lhe entrega uma frase de um psicanalista chamado Wilhelm Stekel: "O que caracteriza o homem imaturo é que deseja morrer nobremente por uma causa, enquanto o homem maduro se caracteriza por desejar viver humildemente por ela." O professor Antolini explica-lhe muitas outras coisas, entre as quais a paixão do conhecimento que Holden sente e que será um caminho a seguir e que passará necessariamente pela aplicação na escola, pois pessoas instruídas e com estudos, que sejam inteligentes e criativas, expressam as suas ideias de forma mais cativante, interessante, significativa e com humildade. Cada um de nós aprende com o exemplo de outros, que também se sentiram frustrados perante uma humanidade completamente perturbadora, mas que se sentiram, por isso mesmo, estimulados para fazer diferente e melhor e deixaram as suas memórias, através da história, da poesia e da música. Nós também podemos deixar o nosso testemunho vivo, se tivermos algo para dar ao mundo e, de certa forma, todos temos alguma coisa, resta descobrir o quê.
Um livro surpreendente. Uma escrita pouco convencional, mas que retrata a personagem que lhe dá voz de forma inquívoca. Um exemplo de inspiração para os adolescentes, dando a conhecer o seu papel no mundo e, principalmente, o que sentem.

Curiosidade: Este foi o livro que inspiriou Mark David Chapman, o assassino de John Lennon.

Sem comentários: