No teu deserto, Miguel Sousa Tavares
No teu deserto, de Miguel Sousa Tavares, não é uma história literária, nem a escrita que a define é elaborada ou eloquente, mas é bonita, de uma beleza simples, que nos deixa a pensar nos muitos encontros e desencontros de que é feita a nossa vida.
Gostei particularmente de algumas passagens que transcrevo de seguida.
"Nada tem uma solução definitiva e não há nada que não tenha algum tipo de solução provisória. É um pouco como dizem da vida os que sabem viver, adaptando-se."
"Tudo o que se diz de desnecessário é estúpido, é um sinal destes tempos estúpidos em que falamos mais do que entendemos."
"A terra pertence ao dono, mas a paisagem pertence a quem sabe olhar."
"Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer."
Há uma passagem, já quase no final do livro, que me deixou a pensar nos tempos que vivemos. Tempos estes em que queremos chegar a todo o lado apressadamente e não nos pertimos parar um só segundo para apenas contemplar. Hoje as pessoas já não se encontram, contactam-se, porque essa é a forma mais rápida de manter as relações que julgam criar, através de telefonemas, emails e das famosas redes sociais, onde se expõem sem qualquer tipo de pudor, não dando mais lugar à descoberta. Hoje as pessoas já não vão ao deserto, porque não há lá nada. Vão em manada para onde todos os outros vão, porque querem encher os seus diários de registos mirabolantes do muito que vêm, mas esquecem-se que estão a perder o essencial: o sentir.
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