“A
máquina de fazer espanhóis” de valter hugo mãe é um livro que nos faz viajar no
tempo, invocando memórias dos nossos avós e todas as expectativas que temos em
relação ao fim dos nossos dias, numa velhice de decadência e resignação.
A
velhice é pois o tema central desta história, que está repleta de memórias
passadas felizes e menos felizes, algumas até traumáticas, que aprisionam a
vida destas personagens, que escasseia a cada dia que passa. Muitas destas memórias vêm ainda do regime autoritário de Salazar e do medo com que todos
viveram as suas vidas na época. Tantos anos passados e é agora, no fim do
caminho, que os fantasmas da cobardia descem à terra para atormentar as pobres
almas que anseiam por um lugar no presumível céu.
A
relação do homem com Deus ocupa também o centro dos pensamentos e das conversas
no lar onde se desenrola toda a trama. Mais do que colocar em causa a existência divina, o que realmente
importa para as almas aflitas é saber o destino que lhes está reservado. Morrer
pode ser assustador se tivermos como única certeza que é isto, acabou, não há
mais nada. Levamos tudo para debaixo da terra, não as casas, os carros, as
roupas, as joias, mas a vergonha dos nossos gestos menos nobres, das nossas
faltas, das nossas culpas, que carregamos amargamente ao longo de toda a vida e
que, não sendo capazes de obter absolvição externa, levaremos ainda connosco
para toda a eternidade, com a memória cruel que não soubemos dignificar esta
vida com uma existência plena e feliz.
A
velhice é o fim da linha, onde glorificamos e lamentamos tudo o que foi feito
ou ficou por fazer. Passamos anos a fio a perder tempo com coisas menores e
quando já não há tempo só nos resta aceitar as encruzilhadas que nos guiaram
até ao derradeiro destino. É na velhice que sentimos que já não há mais nada por
onde correr, este é o tempo de parar, refletir e contemplar.
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