Poesia em Vinyl


O Poesia em Vinyl é um projecto que conjuga artes como a poesia e a música num ambiente intimista, proporcionado pelo Restaurante Vinyl. A organização está a cargo da Raquel Marinho e do Luís Filipe Cristóvão e conta com o apoio da Rádio Radar. O evento tem lugar todos os meses durante um ano. A primeira sessão decorreu em Janeiro de 2010 e a última está prevista para Fevereiro de 2011, com interrupção nos meses de Julho e Agosto para férias.
Ontem estive pela primeira vez no Vinyl. O poeta convidado foi o Pedro Mexia, para ler alguns dos seus poemas esteve presente o Carlos Vaz Marques, e quem nos deu música foi o Samuel Úria.
Foi um serão muito bem passado, onde as palavras teceram uma conversa rica em temas e curiosidades.

Pedro Mexia encantou-nos com a sua análise sobre poesia, teatro e a vida de uma forma geral. Enumerou três temas centrais na sua poesia: a cidade, a memória e o amor. Escolhas intuitivas, na minha modesta opinião.
Soltei uma sonora gargalhada quando o ouvi comentar que “a nossa vida são divórcios e reuniões de condónimos”. A minha mente encheu-se de uma série de memórias visuais sobre estes dois badalados assuntos.
Surpreendeu-me quando afirmou não ser fã de escrita criativa. A escrita é criativa. Escrever é criar. Eu sou fã de escrita criativa. Fiz dois cursos e espero fazer mais.
Curiosamente, de tudo o que foi dito, o que mais me tocou foi uma frase simples, mas carregada de uma verdade dolorosa: “a cultura não nos torna mais humanos”. Pedro Mexia disse-a referindo-se aos alemães, que com músicos como Bach e filósofos como Kant, ainda assim, “meteram as pessoas no forno”. Esta observação fê-la para justificar, em parte, o seu pessimismo perante a vida. Concordo com ele, não tanto na parte do pessimismo, pois sou uma optimista assumida, mas mais pelo conformismo perante a crueldade humana. Não há livro, música ou filosofia que tornem o homem melhor a menos que ele queira sê-lo. A natureza bondosa das pessoas não é abalada por condicionantes externas que lhe sejam nefastas. Essas condicionantes são apenas uma desculpa para a desumanização.


Os Significados

Não sei como tudo começou: suponho
que havia uma figura que depois
se estilhaçou para formar um puzzle.
Mas se juntarem todas as peças
talvez não haja nenhuma figura, e então
de que origem intacta partiu tudo
o que depois se quebrou? É impossível
fazer estilhaços de estilhaços sem uma
coerência primeira, agora ausente.
Quando todas as peças se juntam
estaremos reduzidos ainda a uma peça
de uma figura maior, ou essa figura
é uma utopia pragmática, instrumental,
que permite algum sentido ?
Ó significados, para vós, na infância,
tinha um caderno.

Pedro Mexia, in "Duplo Império"

Depois das palavras faladas, vieram as cantadas pela voz harmoniosa de Samuel Úria. Da sua guitarra sairam notas graves e agudas, mais e menos ritmadas, mas todas elas envolventes.

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