A época estival dura cerca de três meses, com início a 21 de Junho e término a 22 de Setembro. Enquanto fui estudante, passei a maior parte dos períodos anuais de Verão em férias. Eram três longos meses… Lembro-me de chegar a ter saudades dos dias frios e ansiar pela chegada do Outono e, com ele, as primeiras chuvas.
Sempre gostei da ideia de renovação e adorava o reinício das aulas. No final de Agosto corria até à livraria mais próxima para comprar os manuais escolares, que me iriam acompanhar no novo ano lectivo. Depois, seguia-se a, também entusiasmada, corrida até à papelaria, onde comprava novos cadernos, dossiers, canetas, lápis, afias, borrachas e marcadores, que preenchiam uma infindável lista de material escolar. Recordo a emoção com que manuseava todos estes objectos, perfeitamente intactos, sem história alguma que os marcasse, e eu ansiando por usá-los da melhor forma que pudesse inventar.
Quando iniciei a vida profissional, já lá vão mais de cinco anos, fiquei limitada a vinte e cinco dias de férias (já considerando os três de bónus, caso não incorra em ausências ao longo do ano). A sensação que me assola é que nunca vou conseguir ter tempo suficiente de descanso para armazenar a energia de que necessito, para realizar as tarefas intelectuais ao longo ano. O desgaste psicológico requere muita energia! E já não estou a considerar os outros períodos de interrupção lectiva como as férias do Natal, do Carnaval e da Páscoa, que na sua maioria serviam para estudar para os exames que se aproximavam. De qualquer forma, eram períodos que podíamos gerir à nossa maneira, sem a obrigatoriedade de deitar e erguer cedo, enfrentar filas intermináveis de trânsito e o quotidiano rotineiro de aulas e trabalhos de casa.
Agora, sou confrontada com a gestão minuciosa de escassos vinte e cinco dias para quebrar a rotina que a profissão exige! Nos primeiros quatro anos, e com a autonomia financeira que entretanto adquiri, dei por mim a querer aproveitar estes dias para sair dos limites terrestres portugueses e conhecer outras terras, povos e culturas. Fiz algumas viagens, que me proporcionaram a merecida evasão da rotina e me alimentaram a alma com a riqueza de experiências vividas. No entanto, não deixaram de ser férias cansativas, exigentes, onde palmilhei bastante, usei o relógio para controlar os minutos, que tinha de racionar, para ver e conhecer o máximo de coisas e lugares em cada novo espaço que visitei.
Este ano, e após sete dias na Ilha do Faial, nos Açores, onde consegui descansar a par de um intenso frenesim de actividade em actividade, resolvi passar quinze fantásticos dias de dolce far niente. Rumei, com a família, até ao Algarve, destino de férias de milhares de portugueses nesta altura do ano. Troquei os saltos altos pelos chinelos, os fatos pelos bikinis, calções e vestidos de algodão. Tudo em prol do máximo conforto! Deixei de usar o despertador para acordar… Quando tinha sono, dormia, e acordava quando o corpo começava a dar sinais de estar há demasiadas horas em descanso, quer fosse por sintomas como sede, fome, ou dores musculares. Carreguei a toalha de um lado para o outro, estendi-a, invariavelmente, na areia quente, onde me afundava para mais uma sesta, embalada pelo som cadente das ondas do mar. No saco levava apenas coisas úteis: uma almofada insuflável, os óculos de sol, protector solar, o ipod, um livro e a indispensável garrafa de água.
Como distracção, uns períodos de repouso numa esplanada a tomar café ou a deliciar-me com apetitosos gelados, umas excursões à feira do livro, onde adquiri mais uns quantos volumes que irão ocupar as pesadas e bem recheadas estantes do meu quarto e, ainda, uma ida ao cinema.
Em casa aproveitei para fazer uns cozinhados, experimentado umas novas e suculentas receitas, ver uns filmes que tinha em atraso e desfrutar o conforto proporcionado por uma fantástica cama de lona suspensa, vulgarmente conhecida por “rede”, onde me deitei a descansar o corpo e a cultivar a mente, munida de um interessante livro sobre viagens.
Amanhã regresso à grande metrópole. Não sinto saudades da agitação diária, da rotina de horários, da azáfama entre coisas combinadas com uns, actividades planeadas com outros, mais aquelas a que vou dedicando os meus tempos livres, que depois acabam por não existir. No entanto, depois de acumular uma elevada dose de energia, sinto-me bastante capacitada para enfrentar mais um mês e meio de Verão a trabalhar e a deixar-me invadir pela adrenalina da cidade. Estou plenamente tranquila e em paz comigo mesma, porque fortaleci, através destas férias de descanso, a minha força de vontade, auto-estima e capacidade de acção/re-acção. Tenho a certeza que, a partir de agora, vou valorizar, ainda mais, cada bocadinho de descanso e dedicação a mim mesma e ao meu bem estar e, por outro lado, vou sentir, de forma mais intensa, cada novo cheiro, textura e imagem, que a experiência de novas coisas ou lugares me possam proporcionar.
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