The Ghost Writer

Roman Polanski é notoriamente um grande realizador. Fiquei rendida ao seu trabalho com o filme The Pianist, o primeiro filme em que aborda o Holocausto, que testemunhou na primeira pessoa e a que escapou heroicamente. Esta e muitas outras provações que marcam a sua vida não são, contudo, visíveis nos seus filmes através de traços de amargura, desilusão ou rancor. Polanski aborda a realidade por detrás das máscaras, mostra-nos o diamante em bruto e a forma de o lapidar.

Com The Ghost Writer, Polanski compromete-se com um registo cinematográfico bem actual, mas muito distante do género a que nos habituou.  Este seu mais recente filme consiste num thriller sobre conspiração internacional, uma moda que nos vamos habituando a assistir nas salas de cinema. Com mais ou menos humor, umas doses de suspense e um enredo mais ou menos complexo, vamos presenciando um desfile de vaidades, que representam o poder político das grandes potências mundiais, a nível económico e industrial, onde se destacam os Estados Unidos e a Inglaterra e o seu envolvimento, mais ou menos directo, ou camuflado, de cooperação com a CIA e o seu impacto na guerra do Iraque.

The Ghost Writer envolve-nos num clima de total suspense, engolimos as cenas quase sem respirar, esperando ansiosamente pela sucessão de acontecimentos e pelo desenrolar da trama, cada vez mais ardilosa e empolgante.

O elenco é "hollywoodesco": Ewan McGregor, Kim Cattrall, Pierce Brosnan e Olivia Williams.

Na minha opinião, Polanski dá alma a um filme que poderia ser uma banalidade, gasta em conteúdo e pouco entusiasmante do ponto de vista cultural e até político, tema central do filme. Contudo, o filme faz furor pelas características da forma impregnada de mistério e de ligação ao que é o obscuro e tenebroso no mundo da rede internacional organizada, a que alimenta o poder político através do crime e da sua defesa. Há traços do génio a que o realizador faz jus. Embora não seja o filme que o marca, ele sem dúvida marcou significativamente o filme.